Tem uma turma reclamando que agora, com o CID-11, Asperger vai virar autista. Bem, vou dar um spoiler deste artigo: sempre foi.
O pediatra austríaco Hans Asperger foi um dos primeiros profissionais a usar a palavra “autistas” – autistischen – em um trabalho oficial, Die „Autistischen Psychopathen“ im Kindesalter – Habilitationsschrift, eingereicht bei der Medizinischen Fakultät der Wiener Universität, em 1943.
O motivo das pessoas acharem que Síndrome de Asperger não seja autismo é o trabalho de outro austríaco, o psiquiatra Leo Kanner, Autistic disturbances of affective contact. Foi o trabalho de Kanner que deu origem ao autismo infantil.
Asperger e Kanner estudaram o mesmo distúrbio, mas com abordagens diferentes.
Como resultado de seus estudos, Kanner concluiu que devemos remover os estímulos das crianças autistas e ainda atribuiu a causa do distúrbio às mães.
Enquanto isso, Asperger sugeriu uma abordagem de muito estímulo. Olhando hoje para trás, não é difícil advinhar que os pacientes dos dois estudos se desenvolveram de modo completamente diferentes.
Devido à diferença de evolução dos dois estudos, os profissionais chegaram a acreditar que se tratasse de duas condições diferentes. Mais tarde começaram a considerar a Síndrome de Asperger como uma forma mais leve de autismo.
Atualmente se acredita que os autistas são tão diferentes uns dos outros que é irreal tentar agrupá-los em síndromes diferentes, por isso o DSM-5 já não os separa mais. O mesmo pensamento agora se reflete no CID-11, a ser lançado este ano.
Perceba que em momento algum Síndrome de Asperger virou autismo, o que acontece é a evolução natural da ciência, que comete erro, aprende e se corrige, evoluindo ao corrigir-se. Asperger corretamente identificou seus pacientes como autistas; psicopedagogos posteriores confundiram diferentes resultados de abordagens diferentes com condições diferentes, mas o equívoco está sendo corrigido.