Gostaria de começar afastando um fantasma deste debate: homem não pode protagonizar o Movimento Feminista. É machismo o homem tomar a posição central da mulher no movimento da mulher.
É a mesmíssima lógica do caucasiano querer fazer palanque na defesa de negros contra o racismo, ou da cultura árabe contra o antiarabismo; ou, a parte que me afeta, é preconceito médicos neurotípicos se sentirem no direito de invalidar o méritos dos aspies falarem pelos autistas, como se os neurotípicos fossem melhor qualificados.
Dito isso e considerando que o leitor entendeu meu ponto de vista, quero continuar o discurso deste artigo explicando por que homem pode sim ser feminista – SE não tentar tomar o papel da mulher.
Cada um tem uma impressão muito pessoal do significado da palavra “feminismo”, desde um conceito quase compatível com o patriarcalismo até a visão femista. Porém, para que haja comunicação e um movimento prático de mudança, é preciso que haja uma definição mais formal e objetiva.
Assim podemos definir o Feminismo como a crença na igualdade entre os sexos, ou ainda a crença que a diferença entre sexos é horizontal, não vertical.
Na prática, diferença horizontal é a mesma coisa que igualdade: significa que os “diferentes” são na verdade iguais, apenas com necessidades próprias. Enquanto diferença vertical significa que um é melhor que outro (está acima do outro).
Mas o que são essas necessidades? Bem, eu geralmente acho tão óbvio que não carece de explicação, porém geralmente essa minha percepção está errada, e explicações são necessárias.
Homem vai ao urologista, mulher ao ginecologista. PRONTO, acabou.
O sexo da pessoa não pode ser usado para determinar mais nada, nem salário, nem competência, nem inteligência, nem destreza.
Então, segundo o Feminismo, homens e mulheres são iguais e devem ser tratados como tal.
Se Feminismo é a crença na igualdade entre os sexos, não importa (ou não deveria importar) o sexo de quem crê: se você acredita que homens e mulheres são iguais em direitos, você é feminista sim.
Aliás a própria ideia de que homem não pode ser feminista é incompatível com o Feminismo.
Dito de forma mais clara: achar que o sexo determina se a pessoa é ou não competente para alcançar uma ideia é incoerente com a ideia de que o sexo de uma pessoa não pode determinar sua competência.
Mas veja: isso não significa que o homem tenha o direito de tomar o lugar de protagonista da mulher num movimento que diz respeito aos direitos da mulher! O papel do homem feminista termina aqui: até onde ele aceita que as mulheres são iguais a ele, e que o sexo não pode ser usado como fator de avaliação.
Aliás não só sexo: nem sexo, nem gênero, nem orientação sexual.
Machismo consiste em acreditar que o homem é superior à mulher unicamente por ser homem.
Se a pessoa acredita que o homem é superior, ela é maxista, não importa se é homem, mulher, hétero, homossexual, assexuado ou formiga operária.
Então mulher que acredita que mulher é inferior ao homem por ser mulher é machista sim. Não adianta tapar o sol com a peneira.
Para expurgarmos o machismo da sociedade – assim como outros preconceitos – precisamos antes de mais nada olhar para ele com clareza, sem romantismos. As coisas são o que são, e precisamos reconhecer como elas são para podermos mudá-las.
Em resumo, homem pode ser feminista no sentido estrito da palavra (quem crê na igualdade entre sexos), porém só pode participar do movimento como apoio, jamais roubando o protagonismo.