Apenas gostaria de comunicar que, aos meus 43 anos de idade, finalmente perdi o respeito pela inteligência do ser humano.
Não é um ato de rebeldia, mas de respeito próprio.
Passei minha vida toda com vergonha de ser quem sou, autista (ou nerd, como eu definia), alto-habilidoso cognitivo, arrogante. Escondi minha percepção o quanto pude (ao ponto de tentar esconder meu Q.I. na investigação com a psicóloga), tive medo, mas principalmente (reitero) vergonha.
Fui ensinado a vida toda que eu deveria ser normal, igual aos outros. Percebia as pessoas dizendo asneiras, mas me fazia de burro, pois se eu não concordasse (ou ao menos calasse), seria o esquisito. Se eu apontasse qualquer coisa errada, é porque eu sou arrogante, como se arrogância fosse sinônimo de presunção.
Porém presunção é bem vista quando alimenta o senso comum.
Até mesmo outros superdotados falam asneiras: raros são os AH cognitivos. Então se parte do princípio que, se o sujeito é um gênio matemático ou da medicina – ou seja, faz hiperfoco nessas áreas – tem autoridade e propriedade para opinar sobre qualquer outro assunto. As pessoas normais batem palmas para maluco que não faz a menor ideia do que está falando, mas é “mais inteligente” e ainda assim reafirma a intuição comum.
Um aviso aos navegantes: quando a pessoa é realmente inteligente naquele assunto, a tendência é que ela diga coisas sem sentido, que fogem ao senso comum, pois o senso comum geralmente está errado.
Vide Einstein, Schrödinger, Hawking, [update]Noam Chomsky[/update]…
Por isso eu perdi o respeito pela (falta de) inteligência do ser humano, minha resolução para 2019 é me respeitar mais, respeitar mais minha capacidade cognitiva, não importa se vão me chamar de arrogante ou o quanto as pessoas superestimem a humildade (eufemismo para subordinação intelectual).