Com meu recentíssimo diagnóstico, sinto-me compelido a escrever uma série de desabafos por alguns motivos, como catartizar algumas emoções e posicionar-me frente ao mundo.
Primeiro é muito importante deixar claro (pra todos, inclusive pra mim mesmo) que o diagnóstico não muda minha condição – eu não me torno autista – eu continuo sendo autista. Apenas me torno consciente disso.
O objetivo desta publicação é desabafar quanto a um texto que li sobre culpar os outros por nossos próprios fracassos. É preciso antes deixar claro que:
Num texto que li dizia pras pessoas pararem de procurar desculpas pras coisas que não dão certo, pararem de culpar os outros, a sociedade, o demônio, a cultura.
Em parte concordo, uma vez que, quando caímos na asneira de jogar a culpa dos males que nos afligem em fatores externos, tendemos a acomodar-nos à posição de vítimas, sem nada podermos fazer. Por outro lado, o extremo proposto dá a entender a meritocracia, que também é uma farsa, ao desconsiderar a influência do contexto na vida das pessoas.
Em que isso tem a ver com autismo?
Posso falar por mim mesmo e como eu lido (em sempre lidei, mesmo não sabendo) com o autismo, ou melhor, com um mundo feito para não incluir autistas.
Não fico culpando os outros pelos meus fracassos, pior: tenho pensamentos de menos valia (palavras de minha psicóloga), mesmo assim atingi tudo o que pude, contra todas as expectativas para um autista, mesmo um leve. Porém se as pessoas com quem lido diariamente fossem educadas para serem tolerantes com o diferente, eu teria muito menos dificuldades.
É exatamente o mesmo caso da mulher que sofre preconceito da sociedade machista, do negro que sofre racismo, do homossexual que sofre homofobia. Neurodiversos sofrem preconceito sim.
É por isso que precisamos parar de acusar as pessoas de vitimismo, parar com essa palhaçada de heterofobia, cristofobia, misandria e outras mentiras pró-opressoras e começarmos a trabalhar uma sociedade mais inclusiva, menos preconceituosa.