Participando de alguns grupos de pais de autistas, alguns on-line, outros presenciais, tenho percebido uma tentativa – até uma necessidade – de padronizar o autista, mesmo pelos próprios aspies.
Pais de autistas tentam classificar os filhos com rótulos quadrados e fáceis: “autistas são assim”, “autistas agem daquele jeito”. Os próprio autistas comentam “nós somos assim”, “nós pensamos dessa forma”, “nós sentimos isso”.
Bem, tenho uma informação para vocês: não existe “nós”.
A neurotipicidade – “normalidade” para os leigos – é que é uma caixa restrita e limitante, que define de forma estéril os neurotípicos, sem muita margem pra diferenças.
A neurodiversidade, pelo contrário, é todo o resto: todo o espectro de possibilidades do cérebro humano. Portanto cada autista é tão diferente do outro quanto os autistas são dos neurotípicos.
Querer colocar todos os neurodiversos na mesma caixa é como dizer “nós humanos” vs “eles todo o resto: animais, vegetais e minerais”, simplesmente não encaixa.
Uns autistas são hipersensíveis, outro hipossensíveis; uns têm hipersensibilidade a algumas coisas e hipossensibilidade a outras, outros são o contrário. Uns são extremamente inteligentes, outros têm dificuldade com percepção básica; uns são discálculos, outros gênios matemáticos; uns são pattern thinkers, outros photo-realistic visual thinkers e outros ainda verbal minds.
Não é possível colocar todos os autistas sob o mesmo rótulo ou com as mesmas características.
Autismo não é uma doença: a diversidade parece doença à mente limitada assim como o voo parece doença ao pássaro na gaiola.
Nem tão pouco uma deficiência: isso vai ofender alguns que se consideram mais “eficientes” que os autistas, mas a meus olhos de autista superdotado todos os neurotípicos parece deficientes cognitivos. É claro que isso não significa que sejam, assim como os autistas terem deficientes algumas características do desenvolvimento não significa que sejam deficientes.
No entanto classificar oficialmente neurodiversos como deficientes é o único mecanismo disponível parar integrar indivíduos diversos a uma sociedade excludente, que rejeita o singular, o diferente.
Isso porque doente é a sociedade que não consegue lidar como nada além de uma pequena gama de possibilidades restritas do universo humano.