O segundo assunto que vem me incomodando é o desrespeito com a vida que representa a criminalização do aborto.
Há basicamente duas falácias usadas contra a legalização do aborto: 1️⃣ ser a favor da legalização é ser a favor do aborto; 2️⃣ a maioria dos abortos é espontâneo, não justificando a legalização.
Resposta curta: NÃO
Sendo o aborto criminalizado, as mulheres que pretendem abortar vão abortar ilegalmente.
Se o aborto for legalizado, as mulheres procurarão meios legais para abortar. Consequentemente os procedimenos serão fiscalizados:
No mais, há uma sensação de que o número de abordos cai onde são legalizados, mas pode ser uma falsa relação devido a países mais desenvolvidos legalizarem o aborto – talvez o índice de desenvolvimento seja o fator determinante.
Por exemplo, em Portugal o número de abortos caiu após a legalização.
Há alguns artigos na Web alegando que a legalização aumenta o número de aborto, porém um pouco de inteligência invalida cada um deles: são todos sites conservadores ou ligados a grupos conservadores; não trazem dados reais ou restringem-se ao primeiro ano da legalização, não acompanhando a evolução nos anos seguintes.
Assim sendo, atendo-se aos fatos, na pior das hipóteses o número de abortos não muda com a legalização, mas resolve todos os demais problemas associados, enquanto a proibição não diminui o número de abortos como alegado por aqueles que não querem pensar fora de suas caixinhas, apenas empurra para a ilegalidade mulheres que já se encontram psicologicamente fragilizadas.
Há uma tremenda desonestidade intelectual em usar este argumento para criminalizar o aborto.
Não faz o menor sentido colocar na mesma estatística abortos espontâneos e induzidos porque uma coisa não interfere na outra.
Eu tenho a sensação que você gostaria que eu falasse mais sobre essa relação, mas não há o que falar porque ela não existe.
O que eu posso fazer é, toda vez que algum charlatão mau-caráter falar em aborto espontâneo, explicar que alhos não têm nada a ver com bugalhos.