Hoje é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, e pergunto: o que temos em mãos? Pais criminosos dando alvejante para os filhos beberem, movimento anti-vacina e estudos que objetivam normalizar as pessoas.
Isso tudo me assusta bastantes, principalmente porque o ponto em comum entre todas essas barbaridades é a busca do ser humano por normalidade, o desrespeito (e até medo) às diferenças. Tudo o que foge à caixa limitante da normalidade é tratado como doença: homossexualidade, neurodiversidade, até mesmo etnia e orientação política chegam a ser vistas como diferenças a serem eliminadas.
O nome desse tipo de pensamento é eugenia.
Curar o autismo significa eliminar parte do que faz de mim quem eu sou, destruir parte de meu filho. A busca por eugenia significa transformar todos em robôs irracionais – não no sentido de não poderem raciocinar, mas no sentido de serem incapazes de ter abordagens laterais.
Pensamento na caixa, não suporta o diferente.
Uma prova desse preconceito eugenista está na própria página do Calendarr, na frase: “com o intuito de alertar as sociedades e governantes sobre esta doença, ajudando a derrubar preconceitos…” O primeiro preconceito é tratar autismo como doença.
Assisti a reportagem do Fantástico e, apesar das pesquisas sejam perfeitamente válidas, o foco continua sendo mutilar a neurodiversidade, transformando o diferente em neurotípico.
Um exemplo de como a eugenia permeia as pesquisas é como as pessoas extrapolam a resposta imune ao glúten de alguns autistas pra uma suposta característica da condição.
Ou como o pesquisador cita o fato de 30% dos autistas serem não-verbais como uma característica comum da condição. Sejamos lógicos: se 30% são não-verbais, então 70% (muito mais da metade) têm capacidade de comunicação, não podendo daí a não-verbalidade ser definida como uma característica do autismo. O que se pode dizer é que os autistas têm 30% de chance de não se comunicarem.
Esses pequenos preconceitos, aparentemente inofencivos, estão intimamente vinculados à eugenia que permeia nossa cultura de tipificação.
A conscientização (objetivo da data) é a verdadeira cura. Precisamos abrir mão das ideias de perfeição para criarmos uma sociedade mais justa e inclusiva – não apenas para neurodiversos, mas também para todas as pessoas que sofrem discriminação: negros, homossexuais, ǻrabes, mulheres, índios, deficientes, etc.