Recorrentemente tenho visto abordagens eugenistas por parte de pais neurotípicos de crianças neurodiversas, em especial autistas. Quando questionados sobre seu pensamento eugenista, eles negam, envergonhados devido à relação da Eugenia com o Nazismo, mas apenas o nome, mantendo os conceitos.
Eugenia é a ideia de que, estando o ser humano livre da seleção natural em sociedade, torna-se responsabilidade das políticas sociais guiar a seleção dos indivíduos humanos mais aptos, mitigando a possibilidade de pessoas “menos capazes” de passar seus genes para frente, com o objetivo de aperfeiçoar a espécie humana.
A Eugenia subentende que há pessoas melhores que outras, e que essas devem ter privilégios para que essas supostas vantagens sejam passadas para as gerações seguintes.
Pelo princípio eugenistas, qualquer um que fuja à “normalidade” deve ser tolhido de seus direitos de existência e continuidade genéticas. Dessa forma surdos, hiperativos, autistas, homossexuais e esquisofrênicos entre outros devem ter seus direitos reduzidos. Em alguns casos até mesmo judeus e negros.
A eugenia variante mais conhecida é a Meritocracia, que consiste em usar as vantagens classistas e a escalada social como parâmetros eugenistas de superioridade.
No entanto o que realmente vem ao caso para este artigo é outra variante muito mais velada.
A supervalorização da normalidade é um tipo de eugenia. Tudo o que foge do padrão da normalidade é considerado inferior, impuro, maculado.
O nome técnico para “normalidade” nas neurociências é neurotipicidade.
Tudo o que não é neurotípico, ou seja, tudo o que é neurodiverso, é considerado imperfeito.
Portanto o autista é visto como imperfeito, mesmo que isso não seja verbalizado.
Pelo pensamento eugenista estrito, para aperfeiçoar a humanidade os autistas deveriam ser eliminados (não vem ao caso a eficácia dessa ideia). Mas pai ou mãe algum quer ver seu filho eliminado! Ainda assim ele ou ela não quer ser responsável por dispersar genes defeituosos. A única salvação à vista é curar a divergência indesejada.
Quando se fala em cura do Autismo as pessoas já transcenderam a busca por bem estar e plenitude de vida: elas apenas querem que seus filhos sejam normais, para que passem no crivo da Eugenia, custe o que custar.
Então deixam de falar em integração, inclusão e desenvolvimento, passam a falar em cura, porque ser diferente não é tolerável. 😞
Toda vez que alguém falar em cura ou qualquer outra coisa do Autismo, substitua “autista” por “homossexual”, “negro”, “judeu” ou “árabe”: se continuar fazendo sentido, tudo bem; se soar preconceituoso, é porque realmente é preconceituoso.
Autismo não é doença, é apenas uma condição neurológica diferente da típica. O tratamento para o Autismo consiste em: