Thoughts :: Eugenia e o Autismo

April 4th, 2018
A hippo in a flower field.
Autismo

Recorrentemente tenho visto abordagens eugenistas por parte de pais neurotípicos de crianças neurodiversas, em especial autistas. Quando questionados sobre seu pensamento eugenista, eles negam, envergonhados devido à relação da Eugenia com o Nazismo, mas apenas o nome, mantendo os conceitos.

Eugenia

Eugenia é a ideia de que, estando o ser humano livre da seleção natural em sociedade, torna-se responsabilidade das políticas sociais guiar a seleção dos indivíduos humanos mais aptos, mitigando a possibilidade de pessoas “menos capazes” de passar seus genes para frente, com o objetivo de aperfeiçoar a espécie humana.

A Eugenia subentende que há pessoas melhores que outras, e que essas devem ter privilégios para que essas supostas vantagens sejam passadas para as gerações seguintes.

Pelo princípio eugenistas, qualquer um que fuja à “normalidade” deve ser tolhido de seus direitos de existência e continuidade genéticas. Dessa forma surdos, hiperativos, autistas, homossexuais e esquisofrênicos entre outros devem ter seus direitos reduzidos. Em alguns casos até mesmo judeus e negros.

Variações da Eugenia

A eugenia variante mais conhecida é a Meritocracia, que consiste em usar as vantagens classistas e a escalada social como parâmetros eugenistas de superioridade.

No entanto o que realmente vem ao caso para este artigo é outra variante muito mais velada.

A supervalorização da normalidade é um tipo de eugenia. Tudo o que foge do padrão da normalidade é considerado inferior, impuro, maculado.

Eugenia contra o Autismo

O nome técnico para “normalidade” nas neurociências é neurotipicidade.

Tudo o que não é neurotípico, ou seja, tudo o que é neurodiverso, é considerado imperfeito.

Portanto o autista é visto como imperfeito, mesmo que isso não seja verbalizado.

Pelo pensamento eugenista estrito, para aperfeiçoar a humanidade os autistas deveriam ser eliminados (não vem ao caso a eficácia dessa ideia). Mas pai ou mãe algum quer ver seu filho eliminado! Ainda assim ele ou ela não quer ser responsável por dispersar genes defeituosos. A única salvação à vista é curar a divergência indesejada.

Quando se fala em cura do Autismo as pessoas já transcenderam a busca por bem estar e plenitude de vida: elas apenas querem que seus filhos sejam normais, para que passem no crivo da Eugenia, custe o que custar.

Então deixam de falar em integração, inclusão e desenvolvimento, passam a falar em cura, porque ser diferente não é tolerável. 😞

Conclusão

Toda vez que alguém falar em cura ou qualquer outra coisa do Autismo, substitua “autista” por “homossexual”, “negro”, “judeu” ou “árabe”: se continuar fazendo sentido, tudo bem; se soar preconceituoso, é porque realmente é preconceituoso.

Autismo não é doença, é apenas uma condição neurológica diferente da típica. O tratamento para o Autismo consiste em:

  1. Tratar as desordens relacionadas à condição para melhorar a qualidade de vida do autismo;
  2. Oferecer condições que favoreçam o desenvolvimento multidimensional da criança autista;
  3. Tornar a sociedade mais inclusiva e tolerante – só com este último item muitos transtornos já seria solucionados sem terapia.

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